Resenha de A vida é um jogo por Eduarda Sasse

Por Eduarda Sasse

A banda Base compõe o cenário independente de Brasília e está na cena com um novo álbum, é o “A vida é um jogo”, lançado em 2017. 
O álbum começa com a faixa “A vida é um jogo”, com pegada empolgante e guitarras marcantes, contando com alguns solos ao longo da música que reforçam a sensação de inquietação proposta pela letra. A faixa apresenta a banda, mostrando um som bem dividido entre o rock puro e o comercial, fácil de agradar os ouvidos leigos e de chamar atenção dos que já fazem parte da cena.

A faixa seguinte, “Herói”, tem uma postura um pouco mais melódica, ligeiramente mais soft do que sua sucessora, mas sem deixar para trás momentos de destaque dos instrumentos solos que reforçam o estilo da banda. O refrão relevante fica logo gravado na cabeça, depois da segunda vez escutando a música você já se vê acompanhando a letra. Letra esta, aliás, que pende para um lado bem mais profundo e sombrio do que se  espera com o título. Justiça falida e vitórias vendidas citadas na composição ilustram a angústia adornada pela melodia impolida. 

A terceira composição do álbum é a música “Enquanto”. O forte desta faixa é sem dúvidas a letra. Cantada com o vocal claro e em destaque, a letra é rica e leva a uma verdadeira reflexão. Trechos como “Enquanto o relógio atrasa, e o presente não passa. Enquanto tento e o cansaço fala não faça. Mas o mundo não para.” e “Enquanto se sacode a poeira e segue em frente. Tem quem tente, quem desiste de repente” nos colocam para pensar sobre a periodicidade da vida, a passagem do tempo e as formas de encarar as adversidades que aparecem pelo caminho.

A quarta música, “A troco de nada”, começa com o instrumental pesado característico que marca o rock. Esta faixa é bem característica do gênero, o refrão é memorável e a mudança de ritmo dos instrumentos vai ditando o andamento da música, tendo momentos mais leves até sempre voltar ao refrão que, por sua letra fácil, rapidamente fica gravado na memória. É o tipo de música que todo mundo cantaria junto em um show. O solo final é especialmente marcante e a música termina de repente, deixando uma sensação de querer mais. 
O material é finalizado pela faixa “Perfeição”, com o instrumental tão características quanto ao que fez a abertura do álbum, mas numa pegada mais empolgante de modo comovente.

É como se a primeira faixa convidasse para a revolta e o álbum terminasse com uma sensação de dever que ainda deve ser cumprido. As letras são bem compostas e seguem um padrão semelhante de inquietude, reforçado pelo instrumental ligeiro e marcante e pelo vocal grave.

O vocal e o instrumental são potentes e bem pesados em alguns momentos, mas não são brutais o suficiente para espantar aqueles que não são tão fãs do gênero musical. 
É o tipo de som que você adoraria ouvir em um festival, com um copo de cerveja na mão e algumas batidas de cabelo, mas faixas como Herói também poderia facilmente circular comercialmente. Poderia ser apenas mais uma banda lançada no cenário nacional, mas a importância de sons deste arquétipo cresce quando consideramos o peso que o rock perdeu na cena nacional. Em meados dos anos 80 e até durante o início dos anos 90 bandas de rock compunham uma porção considerável do cenário musical nacional, mas atualmente é preciso pensar um pouco para lembrar de alguma banda que de fato se destaque no gênero. Isso quer dizer que não existe mais espaço para o rock? Não, com certeza não é o caso! Bandas como a Base provam que o rock está vivo sim e é assim, agradando a gregos e troianos, que o gênero pode voltar a ganhar espaço. 

A pegada da banda é única, remete a bandas como Tihuana e Detonautas, mas não chega a poder ser totalmente comparável, pois tem vocais mais pesados e em outros momentos chega a lembrar, bem de leve, algo parecido com o que o Matanza faz (com letras profundamente mais comedidas, claro). O instrumental faz recordar algumas faixas menos promocionais da banda inglesa Muse, mas por vezes as guitarras tomam proporções observadas no heavy metal. Estranho? Não, a mistura é boa aos ouvidos e novamente faz um belo trabalho se o intuito é unir várias tribos. Estamos tão acostumados a só escutar bandas internacionais ou a viver no passado relembrando faixas antigas que esquecemos de olhar para o lado e valorizar o que está perto. Vale a pena tirar alguns minutos para escutar e sair cantarolando as faixas mais recordáveis como “A troco de nada” e a de título que dá nome ao álbum. Apoiar o cenário nacional é sempre um bom negócio, principalmente quando o som une qualidade, personalidade e letras com algo a dizer, vale conferir.